quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Feliz Natal

Hoje, num silêncio diferente... (mas ainda sem a música que me toca)... quero desejar a todos um Feliz Natal.

Que a alegria do Natal seja o ponto de partida para um Ano Novo cheio da conquista dos sonhos.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Silêncio

Ensurdecem estes gritos surdos do silêncio que acalmam e enlouquecem a alma.
Choro e sorrio numa insanidade que o silêncio impõe.
E agora... cá dentro... um nó que o silêncio aperta.



terça-feira, 9 de dezembro de 2008

O Silêncio

Assalta-me o silêncio. Toma tudo a minha volta, num ataque terrorista ao que é meu e só meu. Toma o som e a música de um só trago. Consume a minha audição, característica que tanto prezo. Estou sem barulho. Sem som. Estranha sensação. Estou constantemente a ouvir coisas variadas e disparatadas. Conversas de gente que dispenso a minha apresentação, sons de aparelhos metálicos e com luzes a piscar, tic-tac como um tambor na minha mente. E agora, nada! O silêncio. Reconheço-o facilmente, pois é sempre igual. O absoluto vazio do som. Perfeita harmonia de falta palavras e consoantes sem semelhante algum. Apesar de não ouvir nada não consigo deixar de, talvez num acto distraído e altruísta, colocar questões que merecem resposta. Mas não quero ser invejoso e tirar daqui o silêncio que acabou de se instalar e que veio para ficar. Desconheço a linguagem gestual e sou muito mau em mímica. Sempre fui dado às palavras. Tal é a magnitude deste silêncio, que não o vou perturbar com a minha voz. Mas gostava que me respondessem. Procuro me expressar. Procuro questionar, mas faço-o sem falar. Não vou ser eu a quebrar este silêncio cristalino.
Porquê cristalino? Não é possível ver o silêncio, e duvido que consiga focalizar este fenómeno estranho. E por fim, não envelhece nem se altera com a idade. É sempre constante e preocupante. Mas disse cristalino, que seja cristalino então este silêncio vasto e organizado. Organizado, porque é ordenado e sem falhas. Sim, organizado já faz mais sentido. Parece ser uma palavra mais adequada.
Ainda assim tenho questões a serem respondidas. E não se tratam de questões da minha articulação e organização vocabular, disso trato com a minha professora de gramática que pouco me ensinou e muito me baralhou. Gostava então de questionar o silêncio, sobre a razão desta invasão repentina. Terá sido algo que eu disse? Terei eu ofendido o silêncio, com todo o barulho que fiz ao longo desta minha vida? Gostava de me expressar e falar com o silêncio. Perguntar como vai e o que é que o preocupa. Mas não o vejo, nem lhe toco. Apenas o consigo ouvir. Ou será que não ouço? Será possível ouvir o silêncio? Questão incessante esta! Ora bem, o silêncio é a ausência de som e eu só consigo ouvir o som. Portanto se não o ouço, nem vejo e nem pouco sou capaz de o cheirar ou tocar, por deus, quão sozinho deverá estar o silêncio! Carente de algum tipo de afecto e conversa com alguém disponível. Abandonado, o silêncio, na noite escura e pelas ruelas da minha velha cidade. A deambular por entre quartos de apaixonados que se olham nos olhos em pleno silêncio, sem trocar uma palavra. Mas basta uma palavra, uma só e lá vai ele embora para longe.
Agora que escrevo estas palavras, noto que não estou mais acompanhado pelo silêncio. Por cada letra que coloco, um pequeno som me acompanha. Ao longe, outro som dispara, acompanhando o barulho que se começa a instalar. Uma música por baixo algures à minha volta, uma discussão do lado de lá e um crepitar de comida a fazer-se na minha cozinha branca. Não se faz sozinha a comida, e eu já estou com fome. Mas sem querer ofender o pobre do silêncio, com o som involuntário das minhas dentadas e esforço por mastigar a dura carne que aquece e arrefece dentro em pouco, vou continuar então a reflectir com silêncio (mas infelizmente, sem ele).
Não vejo o silêncio. Mas sinto-o, sim claro, sinto o silêncio. É pouco discreto! Quando chega, faz-se logo notar. Cria um pequeno vácuo, sem ocupar espaço algum. Mas mesmo assim deixa cada um desconfortável. Não é bem-vindo, o coitado. Não ocupa espaço, lugar ou habitação. Mas estranhamente, obriga alguém a falar e mandá-lo embora. E alguém fala, ao fim de algum silêncio. Falam a língua da união e iniciam uma conversa vaga ou complexa. Parece que o silêncio tem uma certa vontade de unir as pessoas. Saberá ele o que se passa, quando duas pessoas estão juntas? Saberá o silêncio, do bela que é a harmonia de gente a falar, a amar e a viver? Penso que o silêncio vive muito mal. Vive num mundo onde não há ouvidos. Vive num mundo sem músicas, sem conversas e sons naturais. Ainda assim, acredito que talvez viva num mundo com cultura, pois os museus são silenciosos à noite e ninguém o pode perturbar quando reflecte sobre as obras de um pintor consagrado e adorado. Talvez, ainda assim, ele viva apenas num mundo onde todos estão mortos e onde fala, claro. Que mórbido pensamento! Mas contudo, adequado penso eu. O silêncio vive sozinho, coitado. E mesmo o mudo e surdo provoca som sem sabe-lo. Vive abandonado. Este silêncio que me invadiu à pouco, volta. O som à minha volta caiu. Escrevo devagar, agora. Não quero ouvir nada. Quero a total ausência de som. Quero o silêncio. Deixo-o comigo, só por um pouco. Quero percebe-lo, quero entende-lo. E tão rápido veio como se foi. O barulho voltou a tocar-me. Uma melodia começa a tocar, a discussão volta a acender e ao longe o som estranho repete-se. A refeição na minha cozinha branca já começa a cheirar. Começo a cheirá-la…
O cheiro! Quão divertido deverá ser o cheiro, sempre acompanhado por alguma coisa ou alguém, pois nunca vem só! Sempre acompanhado e sempre com um aroma diferente. O cheiro.
Que posso dizer do cheiro?

9.12.08

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Solidão, e então?

Sinto-me só, quando estou acompanhado. Invadem o meu espaço pessoal e matam um pouco de mim. Que querem eles? Deixem só. Eu e a minha solidão. Tenho tudo o que quero aqui à minha volta, e não me levanto nem me sento. Apenas estendo os braços e alcanço o que quero. Não preciso de pedir nada a ninguém. Não dou respostas e raramente coloco perguntas. Cá estou eu. Eu e apenas eu. Pergunto-me, o que quero eu? Será que consigo alcançar tudo sozinho? Preciso eu de mãos e conselhos em demasia, para ser capaz de vencer? Prezo a minha solidão. Prezo a minha sala vazio. Preço o meu sorriso, ao longe num espelho. Não quero mais que isso. Não quero estranhos a sorrir. Não quero desconhecidos, em breve, conhecidos. Estou satisfeito como estou.
Reconheço o prazer que sempre alcanço, quando estou com alguém que prezo. Sim, claro. Eu vejo o que se ganha e o que se perde no fruto da amizade. E não posso negar, que é tudo muito bonito. Mas eu, eu quero estar sozinho. Não me abandonem, porque nunca estiveram comigo. Não se preocupem comigo, preocupem-se convosco. Se todos seguirem as suas vidas, então fico satisfeito. Acredito que serei feliz, sozinho. Sozinho, tenho tempo para voltar a escrever. Para pegar no meu livro, que já parece um manuscrito medieval, tal é o pó e o mau estado que o acompanha. Sozinho, aprenderei a cozinhar. Experimentar algo aqui e ali. E será fácil perceber o que é bom e mau. Só tenho uma pessoa a agradar. E todas as respostas vão ser verdadeiras. Que mais posso pedir, que uma existência coberta de verdade, eficácia e lições de moral?
Estou portanto satisfeito, alegre e contrafeito. Tenho tudo o que quero, estou sozinho. O silêncio é, contudo, perturbante. Afecta-me toda esta rigidez na minha face. Não consigo ver a minha face com os meus olhos, e não sou o narciso. Não sinto necessidade de sorrir, pois não tenho ninguém para mostrar o meu sorriso. Se sei que estou feliz, porquê sorrir? Eu não me posso ver a sorrir. Estou condenado a ver o mundo sorrir, mas eu não. Conheço melhor a face de conhecidos do que a minha própria face. Sinto-me um desconhecido. E esta minha solidão acorda-me para quem sou. Questiono-me, alcanço e concluo cada vez mais sobre mim. Já não sou o estrangeiro que sorri para o mundo. Já me pareço mais seguro. Mais verdadeiro. Mais herdeiro da minha esperança, de um dia conseguir ser feliz.
E agora, vou procurar alguém. Estou cansado de estar sozinho.

08.12.08

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Gabriel

Chamo-me Gabriel e tenho dez anos. Ninguém brinca comigo, ninguém me olha verdadeiramente, todos querem-me longe… Sou uma criança, e como qualquer uma, preciso de brincar, sentir-me acompanhado e reconhecido. Mas, se me aproximo, o ar torna-se pesado, inúmeros olhos, cada par com um olhar depreciativo, mas diferentes de par em par, observam-me. Medo, aversão, desprezo são alguns dos olhares que decifro no meio de tantos outros. Paro. E o sorriso com que me aproximara desvanece… Por que me desprezam tanto? Sinto-me tão só…
Fora feliz, anos atrás, quando tinha os meus pais a meu lado, olhando e cuidando-me, mas assim o destino não o quis por mais tempo que fosse. Recordo com muito carinho meu pai, admirador de um grande poeta português que, com bastante frequência, lia e recitava a minha mãe e, ocasionalmente, a mim também. Um verso que ele proclamava desse mesmo poeta, quando desolado, era, «Pensar incomoda como andar à chuva», e andar à chuva, confesso, nem eu nem meu pai gostávamos, apesar da chuva, hoje, não me incomodar e o pensamento de estar só me atormentar. A chuva hoje faz parte de mim, enche o rio desconhecido que escorre há dias nos meus olhos, estes que, embora negros, em outros tempos foram brilhantes, cheios de alegria, felicidade e amor, porém, estes olhos negros, que a terra há-de comer, mais escuros se tornaram no decorrer do tempo.
A minha única companhia é inanimada, um urso de peluche de nome Branco, a cor da paz, ele que, ao invés de muitos, compreende-me, ainda que seja com silêncio, mas um silêncio que só ele sabe dar. Queria tanto ter uma palavrinha amiga, ouvir alguém dizer “Vem..”, mas só escuto o oposto: “Vai!”. Por que não gostam de mim? Será que é por não ter já meus pais que o mundo levou? Isso faz de mim um monstro, uma aberração que impede a aproximação e o amor de outros? Não sou um monstro! Sou, sim, sozinho… Vivo isolado, só. A solidão habita em mim e ninguém reconhece a minha existência… Queria, meramente, que alguém tomasse consciência do quanto me sinto abandonado. Alguém! Por favor, alguém…. …. …. …. …. …. Hum..? Quem és?... Queres que....agarre a tua mão?
Sorri..

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

a minha solidão

Dói.
Dói fundo.
Dói profundo.
Dói profundamente fundo.
Anestesia.
Não sei sentir.