domingo, 12 de abril de 2009

Eu não desisto

Eu não desisto. Eu ainda aqui estou. Eu fiz as minhas escolhas. Eu recebi as consequências terríveis das minhas decisões. Eu aceito o meu destino. E agora, que se lixe.
Eu não desisto, porque não me apetece. Porque me parece triste pensar que eu sou o único a querer partir. Oiço histórias de gente que se quer ir embora. Que transforma as pontes, conhecidos elos de ligação entre terras separadas por águas pouco profundas, em meros ferros altos com um salto e um suicídio directo. Eles desistiram. Mas não desistem todos. Alguns ainda cá estão. Outros tencionam por cá ficar consoante a sua vida. E contudo, a maioria tenciona viver até ao fim da vida. Pessoalmente não vejo porquê. O que anseia um ser, que quer viver até ao seu imparável coração desistir? Que deseja ele?
Uma família. Um cão talvez. Filhos. Um carro grande para levar a família para fora no fim-de-semana. Uma casa. Escola para os pequenos, faculdade para os maiores, trabalhar até à reforma para os graúdos. Não me motiva. Não me surpreende. Não me conquista. E contudo, não desisto. Será que também eu procuro o meu pequeno vício. O meu desejo para o resto da minha vida. Não sei pelo que anseio. Não sei para onde vou nem onde estou. Mas de momento não me preocupo. Aceito as verdades dadas como verdadeiros. Não questiono a realidade que é dada a acreditar. E aguento. Silenciado pelo punho forte da justiça. Preocupado com a poesia e alma errante. Sem desistir, ainda aqui.
Até quando? Não sei. Sei que não quero parar de viver. Apenas gostaria de viver noutro sítio. Agora, agora mesmo. Se calhar sofro da doença constante do ser humano. A eterna insatisfação. Não me parece. Esta dor de que sofro não tem nome. Não lhe dou um nome. Se tivesse um nome, já haveria a cura. Ou pelo menos a procura dela. Já haveriam livros, teses e conversas a falar sobre esta insatisfação. Esta frustração. Mas não existem. Nada define o que sinto. Tudo define o que eu deveria sentir. Mas não conto nada. Não vejo nada. Não acredito em nada. Resguardo-me no meu canto. Eu mais a minha doença rara, sem nome ou face para a descrever. Aguento-me, num silêncio puro e real.
Salto e acordo. Eu não desisto. É verdade. Não desisto porque se desistisse, não seria aliviado. Não teria vantagens. Não teria imagens. Não teria eu. E por muito que me despreze. Por muito que veja que a vida é difícil, e que a luta ainda vai no inicio. Concluo sempre, que desistir seria o fim. E gostaria que o meu fim fosse algo mais produtivo. Algo mais inteligente. Algo mais digno. Algo mais real. E desistir seria assassinar esse meu fim. Essa parede branca. Esse incompleto e tolo momento de puro silencio. Um silencio eterno sem nome para o definir. Não desisto, porque espero. Espero lá chegar, com alguma glória.

12.04.09

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