domingo, 26 de abril de 2009

A grande Mentira foi ser verdadeiro

Mentira. A minha maior mentira, foi dizer que digo sempre verdade. Porque o poder da mentira, revolucionou o meu mundo. O facto de eu poder dizer algo sabendo da sua certa falsidade, e ainda por cima ver que todos acreditam em mim, fez-me notar o poder da palavra. E menti. Menti muitas vezes. Por vezes por necessidade extrema, outras por vontade mesquinha. Mas admito-o. Não que isso conte para alguma coisa. E hoje que penso nisso, reflicto. SOU bom a mentir. Não exige uma grande arte, a mentira. Não é preciso muito, talvez seja apenas necessário dispensar de algumas coisas. Cortar com a alma. Cortar com o peso na consciência. Cortar com a sinceridade do olhar. E estamos aptos a mentir e a elucidar todos aqueles que se apresentem à nossa frente.
Vantagens? Haverá alguma vantagem na mentira? A verdade é que quando mentimos, alcançamos algo. Ou conseguimos evitar que algo nos afecte. E esta possibilidade altera toda a nossa percepção do exterior. Porque quando se está a mentir, o mundo altera o seu rumo. O rio já não desce do cimo da montanha para baixo. Os pássaros já não voam. As pessoas já não te olham de lado. Tu és rei, tu és o lorde destas terras. Submetes todos ás tuas palavras. E todos te acreditam em ti. Porque tu até és um bom rapaz! Não fazes mal a ninguém. E só dizes a verdade. Ou pelo menos deveria ser assim. Todos te olham de frente e felizes, até perceberem que mentiste. E que mentiras disseste tu! Tudo isto, apenas para venceres, por uma vontade tão mesquinha e infantil, de ter razão.
Mentir, é admitir que se tem medo das consequências que podem ocorrer das tuas consequências. E nada deve ser suficientemente terrível, para te obrigar. A minha maior mentira, foi dizer que só digo a verdade. E recordo me actualmente, não sei bem como, de grande parte das mentiras que disse. Não das inofensivas, mas daquelas que as suas consequências afectaram alguém. Claro que não me afectaram a mim. E por isso é que menti! Mas afectaram a minha consciência, que calada aguentou com todas as minhas mentiras. Com todo o meu passado que mais ninguém conhece para além de mim. E menti, por mim e para mais ninguém. Porque me acho desinteressante. E quando faço algo, quero ter os lucros da vitória, mas nunca as consequências da derrota.
Recordo portanto, os pobres rapazes que injustamente foram acusados de partirem o vidro do ginásio, naquele último verão do século XX. Recordo aquelas meninas que com palavras bonitas ludibriei, para estarem do meu lado. Recordo todos os testes que copiei, e que menti descaradamente que não o fiz. Pode parecer pouco e inocente, mas o vício de o fazer foi tanto, que se não o tivesse feito, hoje estaria provavelmente um ano atrasado nos estudos. Recordo especialmente as pessoas, poucas mas impossíveis de negar, que enganei com todos os dentes da boca. Que as fiz acreditarem em mim e me acompanharem com orgulho. E estas mentiras, não me deixam. Quero dizer a verdade, mas a maioria das vezes já é tarde demais para admiti-la.
Está tudo dito. Menti e não o vou negar. Não quero mentir outra vez. Tudo começa com pequenas mentiras de criança. E acaba assim, inutilmente e estupidamente, sem sentido.

26.04.09

Sem comentários: