Se tudo fosse diferente, seriamos felizes. Pulávamos de pura histeria e morríamos todos de poluição sonora. Isto, se tudo fosse diferente. E afirmo-o sem rodeios. Pois, queixamo-nos de tudo. De todas as coisa, todas as horas do dia. Logo, se tudo fosse diferente, leva-me a crer que seríamos todos o oposto do que hoje somos. E aqueles que são felizes, como minoria que representam nesta sociedade, não me chateia se o deixassem de ser. Mas agora que penso no assunto, considero que mesmo os felizes continuariam felizes, pela pura incompreensão e irracionalidade que é ser-se feliz. Chega a ser tolo, sorrir e pular de felicidade. Mas respeito. È como o amor, só entende quem está por dentro. E os de fora, limitem-se a tapar os olhos, ou a apreciar o espectáculo que os apaixonados mostram sem pudor, sem vergonha, sem problemas. Entendo-os. Invejo-os.
Penso que se tudo fosse diferente, seria uma confusão. As coisas já são assim há tanto tempo, que me custa imaginar. E não afirmo esta dificuldade, por ter uma visão instruída para olhar em frente, não. Digo-o apenas, pois o “tudo” hoje é simples para quem o vive, apesar de complicado para quem o recusa. Aliás, para quem ainda tem paciência para o recusar. Porque de uma coisa não duvido, passa-nos na cabeça pelo menos uma vez, recusar o mundo como ele é. Até se revelar um projecto demasiado grande para nós. Imagino se fosse o contrário. A verdade é que as coisas são como são, e longe de mim tentar discursar sobre o que não consigo projectar. Consigo imaginar um mundo longe destes meus desabafos. Mas não imagino uma existência em que todos os irritados seriam acalmados. Em que todos os poetas seriam sóbrios. Todos os apaixonados, simplesmente odiados. Todos os ricos, apenas pobres e alegres. Enfim, se calhar escapa-me o que esta possibilidade de por tudo do avesso representa. Não alcanço e admito que não percebo, o que esta diferença permitiria. Não a faço, não a imagino.
Mas se me é permitido, tentarei elaborar uma curta visão deste mundo fantasia. Neste mundo, em que tudo é diferente, seria interessante ver que: sairíamos pelas janelas e abríamos as portas para deixar o ar e os seres rastejantes entrarem; andávamos com as mãos e não com os pés; e seriam os cães a passear-nos, nós a brincar todo o dia e a desejar incontestavelmente o nosso passeio pelo parque, e os cães, por seu lado, passariam as tardes a fumarem cachimbo e a lerem o jornal.
À proposta de por tudo diferente, ignoro-a. Que não me canse a minha mente já estoirada. Que não me pergunte sobre o diferente. Se o diferente é fora do comum, nada é diferente e tudo é igual. Ninguém é único pois todos se copiam. Nada é original, pois é logo copiado e feito em série. Limito-me a ver que, se tudo fosse diferente, seríamos felizes. Pois não o somo agora, em que tudo é igual ao que era ontem. Não somos felizes. Eu pelo menos não sou.
Felizmente.
Sorriso Ingrato - 31.03.09
terça-feira, 31 de março de 2009
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