O meu começo é hoje. Foi ontem. Será amanhã. Já não tenho dia certo, data marcada, vida.
O novo é hoje. São todos os dias que acordo, que recomeço. Que espero. Anseio. Perdida nos momentos vazios, eu aguardo, sem sonhar, o meu começo.
Naqueles tempos eu parei. Eu sentia, recordava e lembrava. Tinha motivos e razões, não precisava de nada mais.
Ser de hábitos, eu.
Habituei o meu ser a rir, a chorar, a divertir e a sonhar. Fiz todos, incluindo eu, acreditar naquilo que eu quis ser. Aquilo que eu era não chegava, nem servia. Tentei sempre ser melhor, tentei quase sempre estar à altura do que esperavam para mim. E não valeu a pena. Nem vale.
Eu lembro-me dos dias que acordava e era igual a dormir. Em que o vazio era grande. Nos dias em que eu, tal como desenho animado, tinha uma grande nuvem preta por cima de mim. Tentei tudo. O que devia e o que não devia. Fracassei. Quantas vezes, quantas… Os planos que fiz, já lá vão. Longe, tão longe.
Como sempre tentar não chegou, não foi suficiente, como nunca é. Eu encontrei sempre o nada a minha espera e eu quis sempre o tudo. Os olhares não eram nem são suficientes. Sinto-me fechada. Feia. Tenho um ar no lugar do coração, lá não há nada, não pode. Torno tudo físico, externo, e finjo. Finjo que sou feliz e realizada. Finjo que valeu a pena e que aproveitei. Finjo.
É… Isso eu sei fazer. Valorizo-me na mentira e no parecer. A ilusão.
E depois houve aquele dia. Sozinha, eu não aguentava mais. Eu não conseguia acordar, dói tanto, a ausência de sentir, de tudo e do nada. Eu não conseguia sorrir. Não conseguia pensar. E sentei-me. No chão duma casa de banho. A minha casa de banho. Nem isso era meu. Água. E o que precisava para tentar ao meu lado. A minha cara estava molhada, as lágrimas. Esvaziei. Tinha que ser. Mas até nisso fui fraca. Hoje não sei o que tinha sido melhor.
Uns tempos depois fui feliz, amei e sorri, quase que parecia real, quase que era possível. E eu quis para sempre, lutei para sempre. Mas não há para sempre. Não existe. Não para mim. E eu senti-me fracassar outra vez na única coisa que eu achava ter feito bem. Não é justo. Nada foi para mim. Nunca. Sinto-me uma pobre coitada. Durante os meus fingimentos tenho pena de gente como eu, e de alguns nem isso, consigo dizer que são pessoas que não querem nada disto que chamamos vida e são assim porque querem. Não são. E eu sei que não.
A noite é o meu lugar. A minha cama. Permito-me ser eu nos meus quinze minutos deitada antes de adormecer. Eu choro. Eu sofro. Eu sou eu. Infeliz. Insegura. Fraca. Carente. Sozinha. Tão sozinha.
E no dia a seguir acordo. E recomeço. Todos os dias. O meu novo começo.
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