Porque é que escrevo? Porque posso. E se não pudesse, escrevia à mesma. E para mim, surge-me como uma resposta inabalável e sem dúvida inquestionável. Escrevo, porque posso. E quando escrevo, solto-me das correntes que me prendem. Valorizo os sentimentos que partilho. Admiro o mundo em vivo. E esqueço os preconceitos que nos desunem. Porque quando escrevo, o mundo é meu. Uma folha branca é como um quadro por pintar. Eu sou o artista. Eu sou o alfa e o ómega, a menos que me falte a tinta na caneta. Eu sou aquele que ordena e comanda as minhas acções. Eu sou quem quiser ser. Que raio, eu não sou eu! Eu sou tudo. E como tudo que sou, quando escrevo, sou quem quiser. Posso partir de um ponto e ser um indivíduo louco a descrever mais um dos meus desejos reprimidos. Salto num segundo e sou uma inocente criança a questionar-me sobre a mente adulta e a sua deficiente capacidade motora. Voo e ergo-me como um homem de uma justiça incomparável, lanço o meu olhar confiante, e mato dragões e outros monstros de cabeça dura. Perco o olhar de justiceiro e levanto a cara numa tarde chuvosa. Sou agora um boémio e um vagabundo da vida. Escrevo poesia e prosa num sótão com vista sobre Paris.
Eis a razão porque escrevo. Porque posso ser tudo, sem nunca deixar de ser quem sou. E com isto, não quero parecer um entristecido que sofre de uma dúvida existencial e que foge para dentro de personagens cativantes, apenas por não gostar da fase que vê sempre ao espelho. Não, eu até gosto de quem sou. E por gostar de ser eu mesmo, é que preciso de escrever. Pois cansa-me sentir que nunca irei mudar. Cansa-me estar tão satisfeito comigo mesmo, que sinto que há tanta vida que estou a perder. Tantas verdades alternativas que não estou a viver. E nunca terei tempo suficiente, para ser tudo. Nunca irei combater dragões, nem nunca serei um indivíduo com uma infância diferente. E a escrita, permite-me ser tudo e contudo, ser sempre o mesmo. E faço-o inúmeras vezes, quase num acto sobre-humano. Nem que seja apenas numa folha A4 e sempre o mesmo estilo de letra.
E quando ponho para o papel, tudo aquilo que sinto, tudo aquilo que quero dizer, uma sensação única percorre-me. Como se tudo fizesse sentido. Como se a minha existência tivesse algo palpável. Algo para admirar. Algo para elogiar. Algo para relembrar. Para me sentir mais do que um indivíduo numa foto. Mais do que um simples nome numa lista. E sinto tudo isto, ainda sozinho. No meu canto. Com um papel e uma caneta. Sinto-me único e especial, pois nunca me sinto sozinho, apesar de aparentemente ninguém me rodear. Sou eu próprio e como quero ser. E isso, ninguém me tira.
Ingratidão – 17.03.09
terça-feira, 17 de março de 2009
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