quarta-feira, 29 de outubro de 2008

A minha Infância

Tive uma boa infância. E por isso, estou grato aos meus pais. Sempre souberam cuidar de mim. Estar ao meu lado. Perguntar se estou bem, se preciso de ajuda. E vivi a infância que gostaria que todos vivessem um dia. Uma infância feliz, sem dar pelo tempo passar. Passada com calma e plenitude. Sorria muito, quando era criança. Penso que a origem de toda a minha felicidade infantil, provém da simples maneira que levei a minha curta infância. Sempre fui reservado. Sem grandes aparatos. Com amigos leais e uma mentalidade aberta. Cresci longe de toda a violência e transgressão contínua que o mundo faz, dia e noite. Cresci num lugar cheio de cores vivas e apelantes, sem barulho e sem pressas. Não me lembro de muitas coisas da minha infância. Mas as poucas coisas que me lembro, enchem-me de um calor e satisfação inevitável. Fui feliz enquanto criança, isso, ninguém me tira.
Mas não sou feliz hoje. Hoje penso muito. Hoje confunde-me o espírito, todos os problemas da actualidade. A violência, sempre desproporcionada. A alma, sempre suja e mal-educada. As crianças a crescerem num mundo electrónico e hiper-sónico. Ficam no seu canto. Agarradas a uma amizade com cores vivas, mas sem contacto humano. Satisfazem-se pelos pontos e recordes que conseguem ultrapassar, num jogo virtual, impessoal, irreal. Não foi assim que cresci. Não é assim que quero que cresça a nova geração. Mas não me cabe a mim decidir. Por mim, apenas gostava de lhes poder contar a minha história. Gostava de lhes dizer que fui feliz, outrora, quando era criança. Gostava de lhes dizer as mil e uma aventuras que partilhei com amigos, que hoje ignoro onde estão. Não me preocupa não saber o paradeiro desses amigos que julgava eternos. Quando se é criança tudo é eterno. Sentimos que a felicidade é certa e para sempre. Que os nossos pais vão estar sempre ao nosso lado. Que todos os natais vão ser recheados de embrulhos de papel, e de prendas maiores que o nosso tamanho. Que todos os dias vão ter uns minutos para estudar e uns minutos para brincar. Que a ida ao parque mais próximo é uma diversão autentica. Que somos felizes, para sempre. Gostava de pensar assim. Gostava de poder dizer que sou feliz. Mas não sou.
Da minha infância guardo apenas boas recordações. Guardo sorrisos e memória, apenas minhas. Não as dou a mais ninguém. Fui feliz. E consigo sorrir, quando penso no passado. Mas o passado já passou. Hoje sou adulto. Hoje encaro a realidade em números e figuras. Já não tenho cores alegres no meu caminho. Já não tenho sonhos, sempre diferentes e sorridentes. Já não tenho natais recheados de embrulhos e prendas gigantes. Já não tenho uma felicidade insuperável, imparável, eterna. Mas sei que fui feliz enquanto criança. E isso, ninguém me tira.

29.10.08

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