Espontaneamente recordei a minha infância numa segunda-feira à tarde quando uma criança exclamou o meu nome: “João! João!”; era o Manuel, um rapazito de apenas 4 anos de idade, aluno da minha mãe que, sem razão aparente, adora-me (provavelmente por ser filho da sua educadora, mas este é outro assunto). Correu até mim, abraçou-me nas pernas, olhou-me e esboçou aquele sorriso tão inocente e característico de uma criança. Tão contagioso é este sorriso que, automaticamente, nos faz sorrir com eles.
Mergulhei então, nesse preciso momento, em pensamentos e viajei em memórias da então minha infância. Tão rapidamente estas passavam – curiosa semelhança com a realidade – que muitas não eram nítidas, assemelhavam-se a um misto de nevoeiro e eu mirava a sua imensidão, como se aguardando pelo regresso de D. Sebastião, onde D. Sebastião, aqui, é a infância que nunca mais retornará.
Tomei consciência das saudades que tinha do tempo em que fora criança…tudo tão simples, tudo tão puro, sem mal… Tudo era simplesmente o que tudo representava; um sonho não passava de um sonho e não um sinal vindo de uma força maior; a flor que via era a flor que defronte de mim estava e não o símbolo do verdadeiro amor, como muitos ousam afirmar; palavras eram nada mais que palavras e não os jogos de sedução e mistério que hoje, muitas vezes, representam, sempre com um segundo sentido por trás.
Existe sim uma simplicidade de vida sem qualquer filosofia. Erro meu. Existe sim uma filosofia, embora inconsciente, divertir-se o mais possível, quer nas aulas como em casa e na rua, em qualquer sítio que seja.
Como gostava de regressar ao passado e possuir a inconsciente consciência que na infância se é dono e senhor, tal como a alegre ceifeira que Pessoa nos relata nos seus versos:” Ah, poder ser tu sendo eu! / Ter a tua alegre inconsciência, / E a consciência disso! […]”- todavia trata-se de uma personagem fictícia. E a pensar em Pessoa regressei à realidade, dando por mim com o Manuel a puxar a minha calça alegremente dizendo: “O João está quase a dormir!”, e inevitavelmente solto um riso, abaixo-me, olho para ele e vejo que não é tão inconsciente. Despeço-me dele com um beijo na testa, volto costas, ouço em coro os meninos da minha mãe dizerem “Adeus João!”, relembro-me da minha turma dos 3 aos 6 anos, agora apenas restam memórias, e digo para comigo mesmo: “ Ah! Bons e velhos tempos…”.
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
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