sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Quem me marcou: Alguém e ninguém

Sinto verdadeiramente que fui marcado por todas as pessoas que conheci, ao longo da minha vida. Um pouco ou muito, cada uma tocou-me de uma maneira diferente, e contudo pertinente. E acredito verdadeiramente que todos os encontros diários que tenho, mesmo que breves, servem para moldar a minha personalidade e pessoa. Todos eles alteraram a minha maneira de encarar os meus defeitos, os meus desafios e a minha maneira de enfrentar a difícil jornada que é a vida. Mas, mesmo assim, é justo e óbvio admitir, que fui marcado verdadeiramente, por uma pequena raridade de sujeitos. Não os vou enunciar, pois seria injusto simplesmente mencionar os seus nomes. Teria de explicar o que cada um fez por mim. O que cada um, mesmo sem saber, contribuiu para eu hoje ser quem sou. Estou-lhes grato e uma parte de mim gostaria de os recompensar, de alguma maneira. Mas qual a melhor maneira de recompensar as pessoas que se esforçaram para me ajudarem? Como melhor agradecer a todas as pessoas que fizeram a minha permanência no planeta terra, ser mais proveitosa e bem sucedida? Será possível dar graças ás pessoas que me marcaram? Porque, para ser sincero, nem todas as pessoas que me marcaram, são bem-vindas na minha mente. Não guardo boas recordações do primeiro namoro falhado. Não guardo recordações calorosas de todos os amigos que perdi. Não guardo sorrisos e fotos falseadas de todos os momentos que passei com gente que hoje desconheço o seu paradeiro. Somos marcados por muita gente ao longo da nossa vida, mas nem sempre somos marcados pelo lado positivo. Por vezes somos marcados ao ponto de deixarmos uma cicatriz impossível de esconder.
Gosto de quem sou, e não me arrependo de nada. Mas reconheço sem problemas, que hoje sou como sou, por culpa de alguns sujeitos. Alguns sujeitos aos quais nunca pedi ajuda, atenção ou amizade. Não lhes vou rogar pragas ou mencionar os seus nomes com uma certa angústia. Não. Apenas gostaria de lhes dizer que não estava preparado para os vossos conselhos. Sempre me vi como uma criança. E todas as pessoas que me marcaram, não o fizeram porque eram inteligentes e cientes dos meus problemas. Apenas me marcaram porque eu estava um passo atrás delas. O que fizeram foi apenas falarem comigo. Foi apenas dizerem as suas perspectivas de vida. Foi apenas falarem e ouvirem o que tinha para dizer. Todas as conversas que tive, onde partilhei sentimentos, confissões e experiencias de vida, posso dizer sem problemas que me influenciaram para hoje ser quem sou. Não estou grato pela coragem e visão astral de todas as pessoas que conversei. Estou antes grato pela vossa pertinência e vontade de falarem. Porque é graças a vocês que hoje sou como sou. Que hoje vejo o mundo como vejo. Que hoje acredito no que acredito. Estou grato a todas as pessoas que me deram lições de moral, mesmo quando me recusava a ouvi-las. Estou grato a todas as pessoas que me juraram eterna amizade, pois concederam-me uma hipocrisia imperdoável para com a realidade. Estou grato a todas as pessoas que me assustaram e me maltrataram, pois deram-me força para perceber que há sempre alguém mais forte que nós e que apesar de tudo, não devemos desistir. E eu não desisti. Ainda aqui estou. E hoje sou o produto de todas as pessoas que me marcaram. Desde a criança sentada no banco do café, hoje de manhã. Ao velho rabugento a passear à tarde, na rua alcatroada junto à minha casa. Cada pessoa que vejo, revejo e desejo, ajuda-me a ser mais eu. A acordar. A mudar e a crescer. Guardo no coração, o nome de todas as pessoas que lembro e recordo variadas vezes pelo que fizeram por mim, mesmo sem terem consciência de tudo o que representam para mim. Guardo na vida, todas as pessoas que constantemente me acordaram e me fizeram acreditar que o mundo é um lugar vasto e merecedor do nosso esforço. Anseio pelo futuro. Por todas as pessoas com as quais vou um dia me cruzar, marcar e ser marcado. Com as quais vou chorar, alegrar e mudar a minha vida, mesmo sem saber.

24.10.08

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