segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Vinte de Outubro de dois mil e sete

20-10-2007:
Um dia especial, um dia diferente, um dia de tango argentino na Aula Magna, início marcado às 18h. Contudo, a dança já tomara início muito antes deste horário e noutro local, este não muito longe..
Na Quinta das Conchas começara o tango, no décimo andar de um prédio. À saída do elevador, a caminho da sua entrada, ouvia-se já a música, não (!), várias introduções de músicas distintas e semelhantes, todas dentro do mesmo tópico, o tango. O libertango, a Primavera porteña de Piazzola e a famosa La cumparcita, eram estes os sons que ecoavam no ar; batera à porta, ela abrira - o tango tomara início!
Um sorriso e um olhar meigo, que tão bem a caracterizam, manifestaram-se face à minha presença; as palavras que proferia, a cada momento que passava, sempre certas saíam daquela boca, fina e perfeita, à medida que o diálogo avançava; era uma dança perfeita, um tango perfeito, os passos sempre certos numa coreografia nunca antes ensaiada.
O percurso para o espectáculo, em dias como os outros, seria o infeliz e sórdido tédio habitual – a monotonia da espera pelo metro, os rostos sérios e fechados das pessoas ao redor, os olhares desconfiados e curiosos, penetrantes quando cruzados, o ar respirado, poluído e cheio, cheio de perguntas, palavras, momentos passados, agradáveis ou não – porém a espera pelo metro foi intrigante, o que nunca sentira antes numa modesta viajem pelos espaços subterrâneos da cidade, os rostos fechados e sérios não existiam, o rosto, o olhar eram apenas de uma só pessoa, dela; cada inalação de ar era sinal de vida e lucidez pelo momento, tanto da caminhada como da entrada para a magnânima Aula Magna e pelo belíssimo espectáculo que nos aguardava; espectáculo já antes iniciado – entrelaçámos as mãos – a dança prosseguira.
Final do soberbo espectáculo na Aula Magna, prosseguimento do inacabado. Lado a lado, ao crepúsculo, olhávamos o céu, as árvores, as folhas, os carros a circular, as pessoas a saírem, desorientadas face à pressa uma vez que, provavelmente, tinham de chegar a casa ou a outro local qualquer após tão belo serão, até que os olhares destes dois inocentes jovens se cruzaram – o medo, o receio, a ânsia, o nervosismo, a esperança, a euforia, a indecisão e impulsividade, o pânico, a paixão…ah a paixão, o tango…a dança da eterna paixão e sedução, o drama, o sentimento, o contacto, o ritmo…a paixão, o seu elemento essencial, o seu alimento e o seu resultado. Todavia nada foi para além de uma mera troca de olhares, pois o momento terminara, as luzes se apagaram, o espectáculo terminara, os olhares se afastaram, o barulho dos tambores terminara, a dança, o tango que pelo dia se prolongara, acabara – ela partira…

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